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Nesse Dia Mundial do Coração, Dr. Antonio Lagoeiro fala sobre as mudanças mais importantes na Cardiologia nos últimos anos.
O grande avanço da cardiologia nas últimas décadas foi a redução da mortalidade cardiovascular, consequência de um melhor entendimento da doença cardiovascular e no desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas e terapêuticas. As principais inovações ou descobertas na cardiologia, que tiveram impacto no cuidado do paciente, foram:
- A eletrocardiografia;
- A prevenção da doença cardiovascular através do Estudo de Framingham;
- A hipótese lipídica e o desenvolvimento da aterosclerose;
- As unidades coronarianas;
- O ecocardiograma;
- A terapia trombolítica;
- Cateterismo cardíaco e angioplastia coronariana;
- Cirurgia cardíaca e os desfibriladores cardíacos implantáveis automáticos.
Apesar de todo avanço, as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte e incapacitação no mundo e cerca de 17,3 milhões de pessoas morre todo ano por causa de doença cardiovascular. Fatores de risco modificáveis como o sedentarismo, a dieta inadequada, tabagismo, diabetes, hipertensão arterial e o sobrepeso/obesidade permanecem os grandes vilões da doença cardiovascular.
Novos medicamentos e recomendações clássicas como fazer exercício e dieta mostram que o controle dos fatores de risco pode reduzir o risco da doença cardiovascular.
Mudança na alimentação – Estudo Pure
A associação entre uma alimentação com frutas, legumes e vegetais e doença cardiovascular e morte tem sido investigada extensivamente em todo o mundo. O estudo PURE¹ mostrou que alta ingestão de frutas, vegetais e legumes está associado com menor risco de morte não cardiovascular e todas as causas de morte e uma tendência não significativa para mortalidade cardiovascular na população global. Estudos prévios e muitos guias alimentares nos EUA e Europa recomendam a ingestão de 400 a 800 gramas/dia, mas esses objetivos não são acessíveis para a maioria dos indivíduos que vivem em países com baixa ou moderada renda. Mesmo uma pequena redução na recomendação para 375/400 gramas/dia pode ter implicações nas despesas de famílias em países mais pobres. O estudo mostra que mesmo três porções por dia (375 gramas) têm benefícios semelhantes na mortalidade não cardiovascular e total, indicando que benefícios podem ser alcançados com um nível de consumo modesto, uma abordagem que será mais acessível aos países pobres.
Atividade física
Recente estudo² analisou a associação entre exercício e mortalidade em pacientes com doença coronariana estável. O estudo concluiu que para pessoas sedentárias pequenas quantidades de exercícios de intensidade leve ou moderada podem trazer benefícios para a saúde, enquanto que indivíduos que já realizam atividade física de intensidade moderada ou vigorosa podem se beneficiar menos com o aumento do exercício. Os maiores benefícios serão alcançados por aumentos modestos no exercício em pessoas sedentárias, especialmente em pessoas com maior risco de eventos, com angina de esforço e dispneia.
O controle da Diabetes – EMPA-REG
O uso da empagliflozina, inibidor o co-transportador de sódio e glicose do tipo 2 (SGLT2), no estudo EMPA-REG mostrou uma redução de eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2. Outras análises do EMPA-REG³ em subgrupos de pacientes que relataram insuficiência cardíaca (IC) foram realizadas e estudo publicado em 2016 mostrou que empagliflozina mostrou uma redução de internação em pacientes com IC e também na mortalidade cardiovascular tanto em pacientes com e sem IC.
O controle da Diabetes – LEADER
Diabetes é o principal fator de risco independente para a doença cardiovascular. O Liraglutida, antagonista do receptor GLP-1, reduz a glicemia, a pressão arterial e promove perda de peso, foi avaliada se oferece um fator protetor contra a doença cardiovascular.
No estudo LEADER4 a liraglutida foi associada com uma redução significativa na mortalidade cardiovascular. Infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular encefálico (AVE) não fatal, redução de mortalidade por todas as causas.
HOPE 3
O benefício de medicamentos que reduzem lipídios e pressão arterial em pacientes com alto risco cardiovascular está bem estabelecido na literatura. As evidências na literatura do tratamento para os pacientes com risco cardiovascular intermediário são escassas.
O estudo HOPE-35 ofereceu fortes evidências de que o uso de estatina na prevenção primária da doença cardiovascular em indivíduos com risco intermediário. Medicamentos anti-hipertensivos podem reduzir ainda mais a doença cardiovascular em indivíduos com a pressão arterial sistólica elevada. Os resultados ajudam a abrir caminho para o desenvolvimento de uma polipílula com a combinação de múltiplos medicamentos para prevenção primária das doenças cardiovasculares na população com menor risco.
Cirurgia bariátrica – STAMPEDE
Estudos têm mostrado que a cirurgia bariátrica, quando utilizada para tratar diabetes, melhora o controle glicêmico e reduz o risco cardiovascular.
Estudo STAMPEDE6 mostrou que após cinco anos de seguimento a cirurgia bariátrica teve efeitos benéficos no controle glicêmico com redução do uso de hipoglicemiantes e medicações cardiovasculares. Mudanças no peso corporal, níveis dos lipídios séricos e qualidade de vida foi superior as mudanças provocadas somente pelo tratamento clínico. Os efeitos benéficos da cirurgia foram observados nos desfechos primários como infarto do miocárdio, AVE, insuficiência renal e morte.
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Referências:
- Miller V, et al. Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) study investigators. Fruit, vegetable, and legume intake, and cardiovascular disease and deaths in 18 countries (PURE): a prospective cohort study. Lancet. 2017 Aug 28. pii: S0140-6736(17)32253-5.
- Stewart RAH et al. Physical Activity and Mortality in Patients With Stable Coronary Heart Disease. J Am Coll Cardiol 2017;70:1689-1700.
- Fitchett D, et al. results of the EMPA-REG OUTCOME® trial. Eur Heart J. 2016 May 14;37(19):1526-34.
- Marso SP, et al. Liraglutide and cardiovascular outcomes in type 2 diabetes. NEJM. 2016. 375(4):311-322.
- Yusuf S, et al. “Blood-Pressure and Cholesterol Lowering in Persons without Cardiovascular Disease”. NEJM 2016. 374(21):2032-2343.
- Schauer PR, et al Bariatric Surgery versus Intensive Medical Therapy for Diabetes – 5-Year Outcomes. N Engl J Med. 2017 Feb 16;376(7):641-651.
COMO, ENTÃO, EXPLICAR O POR QUÊ DE, APESAR DO USO DE ESTATINAS, A RECOMENDAÇÃO DA REDUÇÃO DA INGESTÃO DE GORDURAS SATURADAS, ETC, A MORTALIDADE POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES NÃO SE ALTEROU (OU AUMENTOU)?
A IMPRESSÃO QUE TENHO (E A CADA DIA ME CONVENÇO MAIS DISSO) É DE QUE ESTÃO ATIRANDO NO ALVO ERRADO: AS GORDURAS SATURADAS E O COLESTEROL, SE ESQUECENDO DOS MALEFÍCIOS DO EXCESSO DE FRUTOSE E CARBOIDRATOS DE UM MODO GERAL.