Estratégias para prevenção do câncer em mulheres (parte 1: prevenção primária)

Uma parte dos cânceres está relacionada a maus hábitos de vida, como tabagismo, sedentarismo e etilismo. Saiba medidas básicas para prevenção do câncer.

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O câncer é a segunda principal causa de mortalidade em mulheres no mundo. A cada 100 mulheres, 38 vão desenvolver algum tipo de câncer ao longo da vida, sendo os mais sítios mais comuns mama, pulmão, colon/reto, corpo uterino e pele (melanoma). 

Mais de 40% dos cânceres diagnosticados nos Estados Unidos são considerados potencialmente evitáveis. A maior parte deles está relacionada a maus hábitos de vida, como tabagismo, obesidade, sedentarismo, etilismo e má alimentação. 

Um artigo publicado esse mês na Obstetrics and Gynecology revisou as principais estratégias para prevenção da doença em mulheres.  Confira: 

Cessar tabagismo

Embora em queda nas últimas décadas, o uso de tabaco permanece como a principal causa evitável de câncer, estando associado a 19% de todos casos de câncer nos EUA. Fumar aumenta o risco de câncer de pulmão em 15 a 30 vezes e está associado a, pelo menos, outros 16 tipos de neoplasias. A combinação de medidas educativas/comportamentais, terapia de substituição da nicotina (adesivos, tabletes mastigáveis) e outras formas de farmacoterapia (bupropiona, por exemplo) é mais efetiva do que tais medidas isoladas.

Controle da obesidade

A obesidade é uma epidemia em todo o mundo e sua prevalência vem crescendo em mulheres. Excesso de peso está presente em, pelo menos, 13 tipos de neoplasias. No câncer de endométrio, por exemplo, mais de 60% das pacientes são obesas. Uma perda ponderal de 3-5% já é capaz de produzir benefícios significativos na saúde. Pacientes com obesidade e sobrepeso devem receber aconselhamento nutricional e incentivo à prática de atividade física. 

O uso de fármacos para redução de peso pode ser considerado. A cirurgia bariátrica deve ser considerada para indivíduos com IMC acima de 40, IMC acima de 35 que tenham alguma comorbidades relacionada à obesidade ou refratários ao tratamento farmacológico e terapia comportamental. No entanto, as evidências do efeito da cirurgia bariátrica para redução do câncer ainda são limitadas na literatura.

Modificações dietéticas

O aumento da ingesta de frutas, legumes, farinha integral, peixe e azeite de oliva foi associado a uma redução modesta do risco de câncer em um grande estudo prospectivo de base populacional. Em uma coorte, o aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados foi associado a um aumento no risco de câncer de 11-12%. Dietas vegetarianas e veganas estão associadas a uma redução no risco de câncer de 8 e 16%, respectivamente. Essa associação é particularmente importante na redução do câncer colorretal. 

Redução do consumo de álcool

O uso de álcool está associado a diversas neoplasias, como cavidade oral, faringe, laringe, esôfago, fígado, colon/reto e câncer de mama feminino. Mesmo o consumo leve de álcool (3-6 drinks por semana) foi associado a aumento do câncer de mama. A American Cancer Society recomenda limitar a ingesta a no máximo uma bebida por dia.

Saiba mais: Dia Nacional de Combate ao Câncer alerta para prevenção da doença

Prevenção e tratamento de infecções

Diversos agentes infecciosos são conhecidos como causadores de  neoplasias, como por exemplo HPV, vírus das hepatites B e C, HIV, Epstein-Barr e H pylori. 

O HPV é responsável pelo câncer de colo de útero. A imunização confere proteção quanto aos principais tipos oncogênicos, o que reduz potencialmente a incidência de câncer de colo. 

Já os vírus da hepatite B e C estão associados a hepatocarcinoma – a imunização para hepatite B e o tratamento adequado da infecção pelos vírus B e C são estratégias importantes na prevenção primária desse tipo de neoplasia. 

Pacientes portadoras de HIV tem risco aumentado de câncer de colo uterino, sarcoma de Kaposi e linfoma não-Hodgkin. Como prevenção, deve ser incentivado o uso de preservativo nas relações sexuais e avaliada a indicação de profilaxia pré e pós-exposição para pacientes com maior risco de serem infectados pelo vírus. O tratamento com antirretrovirais também está recomendado para as pacientes sabidamente infectadas. 

O EBV está associado a linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin e linfoma de Burkitt, porém, não há estratégia preventiva específica. O tratamento do H pylori é recomendado pela associação com câncer de estômago e linfoma não-Hodgkin gástrico. 

Redução da Exposição Ambiental

A Organização Mundial de Saúde estima que 16% das neoplasias sejam atribuídas a fatores de risco ambientais, como, por exemplo, poluição, radiação ionizante/ultravioleta e exposição a agentes químicos. As principais estratégias de prevenção são uso de filtro solar (fator de proteção 15 ou maior, reaplicando a cada 2 horas), evitar exposição solar nos horários de 10h às 16h, uso de chapéu e  roupas com proteção e evitar bronzeamento artificial.

Quimioprofilaxia

O uso de aspirina a longo prazo (pelo menos, 10 anos) foi associado a redução da incidência e mortalidade por câncer em 7 e 9% respectivamente. Os maiores riscos são sangramento do trato gastrointestinal e AVE hemorrágico. No entanto, dado o benefício na redução do risco de câncer e doença cardiovascular, o uso pela população em geral provavelmente supera o risco de sangramento. 

Já os contraceptivos orais (tanto alta quanto baixa dose) reduzem o risco de câncer de endométrio, ovário e colorretal. Também são efetivos na redução do risco de câncer de ovário nas pacientes portadoras da mutação do gene BRCA1/2 em 33-80%. Evidências sobre o risco de câncer de mama em pacientes portadoras desta mutação que fazem uso de contraceptivo oral são conflitantes. Um estudo dinamarquês demonstrou que o risco de câncer de mama foi maior entre as mulheres que usavam contracepção hormonal. No entanto, o aumento absoluto do risco foi pequeno.  

Algumas metanálises demonstraram associação entre uso de metformina e redução da incidência de câncer em pacientes com diabetes tipo 2. Em uma metanálise de 265 estudos, o uso de metformina foi associado com redução do risco de câncer em 14%. Atualmente, não há recomendação para uso dessa droga como quimioprofilaxia. No entanto, pode ser interessante considerar esse benefício potencial ao selecionar um antidiabético oral para uma paciente com risco aumentado de doença neoplásica. 

 

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