Como conduzir o choque séptico neonatal?

Continuando a discussão sobre a atualização a respeito do choque séptico pediátrico, falaremos agora sobre os principais pontos relacionados ao choque séptico no período neonatal.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Continuando a discussão sobre a atualização lançada em junho de 2017 pela Society of Critical Care a respeito do choque séptico pediátrico, falaremos agora sobre os principais pontos relacionados ao choque séptico no período neonatal (neonatos nascidos a termo).

Diagnóstico

Taquicardia, desconforto respiratório, dificuldade de mamar, hipotonia, coloração da pele ruim, taquipneia, diarreia ou perfusão capilar periférica alentecida devem levantar suspeita para o diagnóstico de choque séptico neonatal, principalmente na presença de história de corioamnionite ou ruptura prolongada de membranas. Cianose também pode estar presente nos casos em que a sepse leva ao desenvolvimento de hipertensão pulmonar. Os principais diagnósticos diferenciais são cardiopatias congênitas e erros inatos do metabolismo.

Primeira hora da ressuscitação (na sala de parto)

Objetivos no fim da primeira hora: manter ou restaurar via aérea, oxigenação, ventilação e circulação (pressão arterial e perfusão normais) e frequência cardíaca. No final da primeira hora, o paciente deve ter: enchimento capilar menor que 2 segundos, pulsos normais sem diferença entre os pulsos centrais e os periféricos, extremidades aquecidas, diurese maior que 1 mL/kg/hora, nível de consciência normal, pressão arterial normal para idade, glicemia e cálcio sérico normais, diferença da saturação de oxigênio pré e pós-ductal menor que 5%, saturação de oxigênio maior que 95%.

Monitorização: temperatura, saturação de oxigênio pré e pós-ductal, pressão arterial invasiva (umbilical ou periférica), ECG contínuo, pH arterial, débito urinário, glicemia e cálcio sérico.

Via aérea e ventilação: as primeiras opções para ventilação são o oxigênio suplementar ou as cânulas de alto fluxo. Intubação deve ser considerada em pacientes com piora do esforço respiratório, inadequação da respiração ou hipoxemia grave. Realizar expansão de volume e infusão de inotrópicos preferencialmente antes da intubação, pelo risco de piora do estado hemodinâmico com uso de medicações analgésicas e sedativas e com a pressão positiva nas vias aéreas. Para intubação, usar atropina como medida de prevenção de bradicardia; como analgesia, pode-se usar fentanil em baixas doses (1-2 mcg/kg) e com infusão lenta. O uso de cetamina é desencorajado pelo risco de neurotoxicidade. Outras medicações como etomidato (risco de supressão adrenal), morfina, proprofol, benzodiazepínicos, e dexmedetomidina (riscos de piora do estado hemodinâmico) também não são consideradas como primeira escolha.

Circulação: utilizar como via de acesso preferencialmente via umbilical ou periférica; evitar o uso de via intraóssea em neonatos. Iniciar a expansão de volume com alíquotas de 10 mL/kg, observando o desenvolvimento de hepatomegalia e congestão pulmonar. Repetir as etapas com objetivo de melhora da perfusão capilar e pressão arterial. Nos casos de choque grave, iniciar aminas vasoativas mesmo durante a expansão de volume. A indicação é que se use dopamina (< 8 mcg/kg/min) associada a dobutamina (< 10 mcg/kg/min). Os pacientes refratários a esse esquema podem utilizar adrenalina (0,05-0,3 mcg/kg/min).

Tratamento da hipertensão pulmonar persistente neonatal: o tratamento de escolha é o uso de óxido nítrico inalatório. Enquanto este não estiver disponível, utilizar hiperoxigenação com O2 a 100% e alcalinização (pH máximo de 7,50) com bicarbonato de sódio. Milrinona também pode ser utilizada como tratamento adjuvante.

Quer receber diariamente notícias médicas no seu WhatsApp? Cadastre-se aqui!

Após a primeira hora (na UTI neonatal)

Objetivos: manter circulação (pressão arterial e perfusão normais) e frequência cardíaca adequada para idade, saturação venosa central maior que 70 %, índice cardíaco maior que 3,3 L/min/m2, fluxo na veia cava superior maior que 40 mL/kg/min, enchimento capilar menor que 2 segundos, pulsos normais sem diferença entre os pulsos centrais e os periféricos, extremidades aquecidas, diurese maior que 1 mL/kg/hora, nível de consciência normal, pressão arterial normal para idade, glicemia e cálcio sérico normais, diferença da saturação de oxigênio pré e pós-ductal menor que 5%, saturação de oxigênio maior que 95%, avaliação ecocardiográfica que comprove ausência de shunting direito-esquerdo, insuficiência tricúspide ou insuficiência cardíaca direita, INR, ânion gap e lactato normais, sobrecarga hídrica menor que 10%.

Monitorização: temperatura, saturação de oxigênio, pressão arterial invasiva (umbilical ou periférica), ECG contínuo, pH arterial, débito urinário, balanço hídrico, glicemia e cálcio sérico, pressão venosa central, débito cardíaco, fluxo de veia cava superior, INR, lactato e ânion gap.

Ressuscitação volumétrica: a reposição hídrica deve ser realizada para alcançar os objetivos, principalmente a perfusão e pressão arterial normais. O líquido de escolha é solução cristaloide para pacientes com hemoglobina acima de 12 g/dL. Hemotransfusão deve ser realizada naqueles com Hb abaixo de 12g/dL. Diuréticos estão indicados nos pacientes com sobrecarga de volume. Manter acesso venoso com solução glicosada a 10% para prevenção de hipoglicemia.

Suporte hemodinâmico: pacientes com hipertensão pulmonar persistente neonatal se beneficiam com uso de óxido nítrico inalatório (efeito maior quando usado em 20 ppm). Pacientes com função de ventrículo esquerdo ruim e pressão arterial normal podem se beneficiar com uso de vasodilatadores (exemplo milrinona) e adrenalina. Pacientes com hipotensão persistente podem utilizar noradrenalina, tomando-se o cuidado de manter a saturação venosa central acima de 70%. Reposição de hormônio tireoidiano deve ser realizada em pacientes com hipotireoidismo. Hidrocortisona deve ser utilizada em pacientes com insuficiência adrenal. O uso de cateter arterial umbilical deve ser limitado a 5 dias, e de cateter venoso umbilical a 14 dias. Acrescentar heparina (0,25-1 U/mL) nos fluídos administrados no cateter arterial umbilical.

Choque refratário: avaliar cardiopatias congênitas, persistência do canal arterial, erros inatos do metabolismo, derrame pericárdico, pneumotórax, perdas sanguíneas, hipoadrenalismo e/ou hipotireoidismo. Avaliar necessidade de circulação por membrana extracorpórea.

É médico e também quer ser colunista da PEBMED? Clique aqui para se inscrever!

Referências:

  • American College of Critical Care Medicine Clinical Practice Parameters for Hemodynamic Support of Pediatric and Neonatal Septic Shock. Critical Care Medicine: June 2017 – Volume 45 – Issue 6 – p 1061–1093 doi: 10.1097/CCM.0000000000002425

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades