Estamos cuidando de forma integral das pessoas que necessitam de internação hospitalar?

Será que estamos cuidando de forma integral das pessoas que necessitam de internação hospitalar? Essa pergunta nos remete diretamente a outra importante questão: o que significa cuidado integral no ambiente hospitalar?

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Será que estamos cuidando de forma integral das pessoas que necessitam de internação hospitalar? Essa pergunta nos remete diretamente a outra importante questão: o que significa cuidado integral no ambiente hospitalar?

Apesar de muito discutida no cenário da atenção primária à saúde (APS), o conceito de integralidade não ganha esse nome no ambiente hospitalar, e, muitas vezes, acaba não sendo valorizado. A integralidade poderia representar tanto os cuidados relacionados ao tratamento das doenças, sua cura ou reabilitação mas também ao bem-estar físico, psíquico e social dos que foram internados. Tendo por base esse conceito geral nos deparamos com realidades diversas na rede hospitalar brasileira onde variam desde a precariedade até os que garantem melhores níveis de cuidado.

Mas será que nos locais onde existe a melhor qualidade de cuidado existe um profissional de referência para esse cuidado?

Essa pergunta surge quando nos deparamos com um artigo publicado no JAMA¹, que compara os desfechos de idosos internados nos Estado Unidos. Nesse artigo, são comparados desfechos na internação de idosos acompanhados por médicos hospitalistas, pelo seu próprio médico de família e comunidade ou outro generalista que não acompanha aquela pessoa. Logo na primeira passada de olho nesse artigo surgem algumas dúvidas: o que são médicos hospitalistas? Esse estudo pode ser reproduzido na realidade hospitalar brasileira?

Na tentativa de encontrar a melhor definição de um “hospitalists” fica quase impossível enquadrar esse especialista na realidade brasileira. Em 1996 foi publicada a seguinte definição: os hospitalistas são especialistas em medicina hospitalar, responsáveis ​​por administrar o atendimento de pacientes hospitalizados da mesma forma que os médicos de atenção primária são responsáveis ​​pela gestão dos cuidados ambulatóriais². Em 2005, uma nova definição foi feita: um médico especializado no tratamento de pacientes hospitalizados de outros médicos, a fim de minimizar o número de visitas hospitalares por outros médicos³. Nos Estados Unidos grande parte desses médicos são médicos de família, clínicos ou pediatras. No Brasil, seria equivalente a um médico assistente, mas que tem seu trabalho voltado para o ambiente exclusivamente hospitalar. Ele funciona como coordenador do cuidado do paciente internado, como um intermediador de seu cuidado e sua família.

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Além da dificuldade de reproduzir esses resultados no Brasil pela inexistência dessa função definida na maioria da rede hospitalar, a maioria dos médicos de família e comunidade não realizam visitas hospitalares, apesar de ser uma das potencialidades da especialidade.

A grande questão reflexiva do artigo é se o desfecho dos pacientes internados é melhor quando cuidado pelo seu próprio MFC, que possui a longitudinalidade ao seu favor ou pelo médico hospitalar, que tem ao seu lado a expertise de trabalhar no local da internação?

Dúvidas no ar, vamos aos seus resultados. De forma não surpreendente, os desfechos de pacientes internados e acompanhados por um generalista que não realizava seu cuidado antes da internação são piores. Mas quando se compara os cuidados por médicos hospitalistas com MFC temos o seguinte resultado: o tempo de permanência da internação é menor no grupo cuidado por hospitalistas e a mortalidade após 30 dias é menor no grupo cuidado pelo seu MFC. Apesar de nada muito empolgante, esse resultado nos traz grandes reflexões. Será que precisamos competir por qual especialidade tem melhor desfecho ou será que o momento é de união das especialidades para o melhor cuidado? Afinal, queremos cuidar de pessoas ou sermos vitoriosos em uma disputa nada saudável?

O bom senso faz-nos admitir que o cuidado hospitalar deveria ser compartilhado por esses profissionais. De um lado o MFC que possui a função de coordenar o cuidado daquela pessoa e de outro o médico hospitalar que tem maior experiência no cuidado do paciente internado. Cabe lembrar que considerando a dificuldade logística de se trabalhar em uma grande cidade, meios alternativos de comunicação são muito bem-vindos para um bom diálogo.

Além disso, essa reflexão nos remete sobre a importância do preenchimento por parte do MFC do encaminhamento do paciente e da resposta, ou chamada contra-referência do médico hospitalar. Dessa forma, a união de cuidados garantirá maior qualidade no atendimento e acompanhamento das pessoas que necessitam de internação hospitalar, garantindo a integralidade do cuidado no ambiente hospitalar.

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Referências:

  1. JP Stevens, DJ Nyweide, S Maresh, LA Hatfield, MD Howell, BE Landon.Comparison of Hospital Resource Use and Outcomes Among Hospitalists, Primary Care Physicians, and Other Generalists. JAMA internal medicine 177 (12), 1781-1787
  2. Wachter RM, Goldman L.The emerging role of “hospitalists” in the American health care system. N Engl J Med. 1996 Aug 15;335(7):514-7.
  3. “hacker.” Merriam-Webster.com. Merriam-Webster, 2011. Web. 8 May 2011.

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