Lipoaspiração: um pouco de história, técnica e inovações

A lipoaspiração foi, originalmente, introduzida pelo cirurgião francês Yves Gerard Illouz em 1980, e continua sendo uma das mais populares e eficaz técnica para o tratamento do contorno corporal,

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A lipoaspiração, lipectomia assistida por sucção ou lipoplastia, foi, originalmente, introduzida pelo cirurgião francês Yves Gerard Illouz no início da década de 1980, e continua sendo uma das mais populares e eficaz técnica para o tratamento do contorno corporal, sendo a modalidade terapêutica mais comumente empregada na cirurgia estética atual.

Referida, comumente, como “lipo” pelos pacientes, a lipoaspiração é um procedimento cirúrgico no qual são removidos depósitos de gordura corporal localizada, com auxílio de cânulas, que são introduzidas no tecido subcutâneo, aspirando e removendo a gordura com a assistência de um aspirador. O objetivo desse procedimento é melhorar o contorno corporal e suas proporções, não é um tratamento para a obesidade e não substitui uma dieta balanceada e exercícios físicos. Também não é um tratamento efetivo para celulite.

Ao longo das últimas duas décadas evoluiu de um procedimento que removia pequenas quantidades de gordura para uma ferramenta, praticamente, insubstituível no arsenal da cirurgia plástica. É procedimento complementar na cirurgia do rejuvenescimento facial, reconstrução mamária e cirurgias estéticas das mamas, gluteoplastias e demais cirurgias que abrangem o contorno corporal. Além disso, o crescimento contínuo na manipulação e enxertia da gordura torna a lipoaspiração presente em quase todos os procedimentos reparadores e estéticos.

Uma variedade de inovações em equipamentos e treinamento dos cirurgiões refinou, progressivamente, o procedimento com a utilização de soluções umectantes, avanços no desenho, formato e materiais das cânulas e uso de tecnologias complementares como: a lipoaspiração assistida por ultrassom (LAU); a lipoaspiração assistida por pressão (LAP); a lipoaspiração assistida por VASER; e a lipoaspiração assistida por laser (LAL), entre outros.

Um grande esforço tem sido realizado visando a definição de diretrizes de segurança adequadas para a lipoaspiração e outros procedimentos de contorno corporal, baseado na profilaxia da trombose venosa profunda e na reposição volêmica, garantindo segurança e eficácia das diferentes modalidades de tratamento.

Contudo, como todo procedimento cirúrgico a lipoaspiração não é isenta de riscos e por esse motivo deve ser realizada por médico treinado, em ambiente adequado, observando as diretrizes de segurança e cuidado do paciente.

Considerações anatômicas básicas

Anatomicamente, a gordura subcutânea corporal é divida em dois compartimentos ou camadas, superficial e profunda, baseados na fáscia de Scarpa ou fáscia equivalente. No entanto para os propósitos de lipoaspiração a gordura subcutânea é, arbitrariamente, dividida em três camadas: superficial, intermediária e profunda. A camada superficial não deve ser removida, ou seja, deve-se evitar a lipoaspiração superficial sob o risco de comprometimento vascular (plexo subdérmico) e aumento das irregularidades de contorno.

A consistência e a espessura dessas camadas varia de acordo com as diferentes regiões anatômicas, por exemplo: a gordura do torso tem uma camada superficial e intermediária mais fibrosa e compacta, com uma camada subjacente areolar frouxa. Contrastando com a gordura da parte interna da coxa que é menos fibrosa e menos compacta.

Essas camadas arbitrárias ajudam a delinear as áreas de segurança ao se realizar a lipoaspiração. O procedimento visa à aspiração das camadas intermediária e profunda, o que permite a redução uniforme do acúmulo de gordura com menor risco de lesão do plexo subdérmico e lesões indesejadas na pele.

Classificação

Classificamos os pacientes em três tipos de distribuição de gordura e excesso de pele:

Tipo I – Lipodistrofia localizada: quase sempre em pacientes mais jovens, com bom tônus cutâneo e irregularidades cutâneas mínimas.
Tipo II – Lipodistrofia generalizada: tônus cutâneo ligeiramente diminuído, com algumas irregularidades cutâneas e lipodistrofia circunferencial ao longo do tronco e das extremidades.
Tipo III – Lipodistrofia e redundância cutânea: excesso significativo de pele, que seria melhor tratada com técnicas excisionais, garantindo melhor forma e contorno. Nesse caso, a lipoaspiração pode ser um complemento ao procedimento para garantir um melhor resultado.

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Opções terapêuticas

Existem, atualmente, várias modalidades de lipoaspiração. A seleção de cada uma delas depende da preferência do cirurgião, da área a ser tratada, do aspirado previsto e do histórico prévio de lipoaspiração. As opções mais comumente utilizadas incluem: a lipoaspiração tradicional, ou assistida por sucção (LAS); a lipoaspiração assistida por pressão (LAP); a lipoaspiração assistida por ultrassom (LAU); a lipoaspiração assistida por VASER; e a lipoaspiração assistida por laser (LAL). A LAS tradicional ainda permanece a mais comum e popular modalidade para a lipoplastia entre os cirurgiões plásticos.

A lipoaspiração assistida por sucção utiliza uma técnica em duas etapas em que o local é infiltrado por solução anestésica e vasoconstrictora predeterminada, procedendo-se à aspiração da gordura. Nessa técnica há um trabalho mais físico, envolvido na quebra e remoção da gordura. Suas vantagens consistem na facilidade de execução, cânulas maleáveis e variadas e décadas de experiência e resultados. Suas desvantagens incluem maior dificuldade de execução em áreas fibrosas, principalmente, nas lipoaspirações secundárias.

A lipoaspiração assistida por pressão, também conhecida por “vibrolipo”, utiliza uma cânula com alimentação externa que varia de tamanho e flexibilidade e oscila em um movimento alternado de 2-3 mm na taxa de 4000-6000 ciclos/min. Seus defensores afirmam que essa técnica é melhor para aspiração de grandes volumes, áreas fibrosas e lipoaspiração revisional. Como o movimento da cânula otimiza a quebra da gordura o procedimento costuma ter menor duração e exige menor esforço do cirurgião que a LAS tradicional.

A lipoaspiração assistida por ultrassom utiliza a energia ultrassônica para quebrar a gordura, emulsificando-a e facilitando sua remoção assistida por sucção, com utilização de cânulas de lipoaspiração tradicionais. Seu mecanismo de ação é prioritariamente mecânico, mas também ocorre cavitação e alguns efeitos térmicos podendo resultar em queimaduras cutâneas. A LAU compreende três etapas: infiltração de solução umectante, emulsificação e evacuação da gordura. A pele do orifício de entrada deve ser protegida para evitar dano térmico. Suas vantagens incluem menor esforço cirúrgico, resultados melhores em áreas fibróticas e nos procedimentos secundários. As desvantagens incluem maior custo com equipamento, incisões cirúrgicas ligeiramente maiores, tempos operatórios maiores e o risco de lesão térmica.

A lipoaspiração assistida por VASER emprega uma nova geração de dispositivos que utilizam ultrassom que trabalham com menor energia e maior eficiência. Como o sistema utiliza menos energia há redução do componente térmico para os tecidos. A execução é semelhante à LAU.

A lipoaspiração assistida por laser envolve a inserção de uma fibra de laser através de uma pequena incisão cutânea. Utiliza comprimentos de ondas de 924/975 nm, 1064 nm, 1319/1320 nm e 1450 nm. Muitos desses dispositivos utilizam mais de um comprimento de onda durante o tratamento. Essa técnica tem sido realizada em 4 etapas: infiltração, aplicação de energia nos tecidos subcutâneos, aspiração e, finalmente, estimulação subcutânea da pele. A fibra de laser atua, supostamente, rompendo as membranas das células adiposas emulsificando a gordura. A evacuação, em seguida, começa através de cânulas de lipoaspiração tradicional e o estímulo subcutâneo por meio de aquecimento tem como objetivo “endurecer” a pele, ou em outras palavras reduzir a flacidez cutânea. Não há grandes estudos prospectivos comprometidos em examinar as vantagens da LAL sobre as tecnologias existentes, portanto os relatos que encontramos precisam ser validados cientificamente.

Outros métodos como lipoaspiração assistida por água (utiliza a água para quebrar a gordura) e lipoaspiração assistida por ultrassom externo são métodos raramente utilizados e necessitam de estudos que comprovem sua eficácia ou superioridade à outros métodos.

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Inovações

A necessidade crescente de eliminar os acúmulos de gordura com procedimentos menos invasivos propulsiona tecnologias emergentes.

O tratamento com laser de baixa intensidade surgiu, recentemente, como um tratamento para a lipodistrofia e é realizado em conjunto com dieta moderada e exercícios. A aplicação é percutânea e supostamente indolor. É uma utilização não oficial dessa tecnologia e não existem estudos com dados de longo prazo disponíveis sobre a eficácia do tratamento com laser de baixa intensidade até o presente momento.

Existe também a remoção não invasiva da gordura com tecnologia de ultrassom que objetiva a destruição da gordura por meio das ondas ultrassônicas (via cavitação) térmico ou não térmico sem a fase de evacuação, contando com a “absorção” da gordura através de mecanismos fagocíticos do organismo.

Uma outra técnica de desenvolvimento recente é a lipoaspiração combinada com a ablação por radiofrequência das células adiposas. Os benefícios seriam a destruição térmica da gordura, a remoção através da aspiração com cânulas e o aquecimento subnecrótico da derme para redução da flacidez.

A criolipólise bastante difundida nos grandes centros brasileiros, promove o resfriamento controlado da gordura subcutânea, com a destruição seletiva das células adiposas sem lesão dérmica ou epidérmica. Com absorção da gordura pelo organismo, sem a necessidade de sucção com cânulas.

Existe muita novidade no mercado e muitos métodos sem comprovação segura de sua eficácia. Vimos ao longo das décadas, a evolução e o estabelecimento da lipoaspiração como um dos procedimentos estéticos mais realizado no mundo. Embora apresentado como um procedimento simples, o processo de lipoaspiração/lipoescultura é tanto uma arte quanto uma ciência e por isso o médico deve compreender a fisiopatologia do paciente a fim de tratar eficazmente oferecendo os melhores resultados.

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Referências bibliográficas:

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