O que você precisa lembrar sobre os efeitos oculares do Zika Vírus?

Uma das infecções que mais mobilizou o país nos últimos dois anos foi a por ZIKA vírus, que teve os primeiros casos confirmados no Brasil em março de 2015.

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Uma das infecções que mais mobilizou o país nos últimos dois anos foi a por ZIKA vírus, que teve os primeiros casos confirmados no Brasil em março de 2015. Aproximadamente 134 mil pacientes já tiveram confirmação sorológica de infecção por ZIKA , além de 2.700 crianças com confirmação de infecção congênita. Quarenta e oito países e territórios das Américas confirmaram transmissão pelo mosquito desde 2015. De acordo com o CDC, nos Estados Unidos foram reportados 36.582 casos, 1.845 gestantes infectadas e 64 recém-nascidos com alterações relacionadas à infecção.

Artigo de revisão publicado na Survey of Ophthalmology em 2017 falou sobre as últimas descobertas da infecção. Por mais de 50 anos, a única forma conhecida de transmissão era o mosquito, predominantemente espécies do Aedes. Apesar de serem considerados a principal forma de transmissão, foram documentados casos associados à infecção congênita, transmissão sexual, hemotransfusão, transplante de órgãos e exposição em laboratório. Ainda existe questionamento sobre a possibilidade de transmissão não sexual por fluidos corporais (lágrima, suor, secreção conjuntival). A viremia pelo zika vírus seria similar a outras flaviviroses, de aproximadamente 7 dias, porém já foi encontrado vírus por mais de 188 dias no sêmen de homens infectados.

Em relação aos achados clínicos, muitas pessoas podem ser assintomáticas ou ter somente sintomas leves. A tríade descrita na primeira epidemia de zika na micronésia era de rash maculopapular, artrite ou artralgia e conjuntivite não purulenta, mas somente 18% tem a tríade. Os outros sintomas podem ser febre baixa, mialgia, cefaleia. A síndrome de Guillain Barre é uma complicação rara. Houve um caso de papiledema pós-infeccioso em paciente com diagnóstico presumido de ZIKA. Um grupo da Colômbia identificou Síndrome de Miller Fisher em 6% dos pacientes, que é associada a oftalmoplegia. Foram identificados também dois casos de encefalopatia. A uveíte foi descrita como uma manifestação do vírus adquirido, com inflamação intraocular associada com conjuntivite, iridociclite hipertensiva, maculopatia unilateral aguda e mais recentemente uveíte posterior bilateral.

Mais da autora: ‘É recomendado prescrever antibióticos na abordagem inicial de pacientes com conjuntivite aguda?’

A síndrome de Zika congênita produz um grande espectro de malformações, incluindo anormalidades do sistema nervoso central, malformações de membros, deficiência auditiva e achados oculares. A proporção de crianças nascidas com deficiências associadas em relação às gestantes com diagnóstico de Zika foi de 6% nos EUA. São diversos acometimentos sistêmicos, como calcificações envolvendo principalmente lobos frontal e parietal e outras malformações do desenvolvimento cortical; artrogripose em 7-10%; deslocamento do quadril em 100%, pé torto congênito em 86%; perda auditiva em 6%, irritabilidade em 85%, convulsões em 50%; disfagia em 15%, dentre outras.

Cinco achados que distinguem de outras infecções congênitas são a microcefalia importante, córtex cerebral fino com calcificações subcorticais, cicatriz macular e mobilização focal de pigmentos retinianos, contraturas congênitas e hipertonia precoce com sintomas de envolvimento extrapiramidal.

Mais de 50% das crianças com microcefalia associada a infecção congênita pelo vírus da Zika têm algum achado ocular. A maioria dos estudos mostra que ocorre dano ocular em muitos casos, afetando principalmente as estruturas do segmento posterior incluindo retina, nervo óptico e vasos retinianos. Os principais achados são a alteração pigmentar e a atrofia coriorretiniana macular.

Contudo, algumas alterações do segmento anterior já foram encontradas como coloboma de íris, subluxação do cristalino, catarata, glaucoma, calcificações intraoculares, microftalmia, além de alterações neuroftalmológicas como paresia de oculomotor e abducente com estrabismo convergente e perda de reflexo pupilar.

Ventura et al. analisaram os fatores de risco associados com anormalidades oculares vistas na síndrome congênita e concluíram que são mais comumente observados em crianças nascidas de mães que tiveram sintomas no primeiro trimestre e naqueles com microcefalia mais grave ao nascimento. Além disso, estudaram as anormalidades retinianas com tomografia de coerência óptica (OCT), mostrando que o principal achado incluía a descontinuação da zona elipsoide e hiperreflectividade subjacente ao epitélio pigmentar da retina (100%), afinamento retiniano (89%), afinamento coroidal (78%) e escavação tipo colobomatosa (44%). Não houve caso de uveíte na infecção congênita.

Infelizmente, ainda não existe uma modalidade terapêutica ou vacina capaz de prevenir ou atenuar a infecção por Zika vírus e suas complicações. A doença sistêmica é tratada de acordo com os sintomas. Em crianças com infecção congênita, o cuidado é focado no diagnóstico e manejo das condições presentes, monitorando o desenvolvimento da criança ao longo do tempo. A doença nesse caso deve ser tratada de forma multidisciplinar.

A recomendação do CDC é que mesmo que tenha um exame ocular normal no nascimento, os bebês expostos devem ser reexaminados aos 3 meses. Além disso, mesmo os nascidos sem microcefalia devem ser rastreados, já que podem ter outros achados neurológicos e oculares.

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Referências:

  • Maria Carolina Marquezan, Camila V. Ventura, Jeanne S. Sheffield, William Christopher Golden,
    Revaz Omiadze, Rubens Belfort, Jr. William May Ocular effects of Zika virus: a review Survey of Ophthalmology 2017

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