Paciente terminal: existe uma maneira de ajudar para um final melhor

Um programa está mudando o modo como pacientes e médicos falam sobre a morte. Você já se perguntou o que o seu paciente realmente quer naquele momento?

Um programa do Ariadne Labs, em parceria com a Brigham and Women’s Hospital (BWH) e a Harvard T.H. Chan School of Public Health, nos Estados Unidos, está mudando o modo como pacientes e médicos falam sobre a morte. O Programa de Cuidados para Doenças Graves (Serious Illness Care Program) tem como objetivo não deixar que a pessoa doente passe seus últimos dias frustrada dentro do quarto de hospital, rodeada de aparelhos. Você já se perguntou o que o seu paciente terminal realmente quer naquele momento? Já fez essa pergunta para ele e sua família?

A ideia surgiu porque, muitas vezes, médicos e familiares adiam contar para o doente que seus últimos dias estão se aproximando, e isso resulta em uma grande frustração naquela pessoa, que não consegue cumprir seus desejos finais ou algum objetivo de vida. Geralmente, a escolha de ficar no hospital e só contar quando não houver mais esperanças acontece devido à gama de aparelhos e tecnologias que foram criadas ao longo do tempo para evitar a morte ou adiá-la. Mas o fato de não ter a conversa adequada também pode ser uma grande questão, e a equipe do projeto se perguntou justamente isso: por que essas conversas não são feitas? Os motivos identificados foram diversos, e incluem desde a dificuldade de saber se o paciente realmente está perto de morrer, até a falta de treinamento dos médicos para lidarem com essas questões.

O programa foi lançando em locais de atenção primária, acreditando-se que os relacionamentos entre os médicos e pacientes já tinham sido criados, e isso facilitaria a implantação do projeto. Mas, analisando que cerca de metade de 350 mortes que ocorreram no BWH eram de pessoas que não tinham tido cuidados primários, foi compreendido que o hospital era um ambiente que deveria ser envolvido no projeto, pois beneficiaria muitas pessoas. O desafio foi justamente colocar os médicos de emergência numa posição confortável para ter esse tipo de conversa, porque com os clínicos ambulatoriais que já conhecem o paciente há muito tempo tinham espaço para isso.

Leia também: ‘O que impede os médicos de falarem sobre a morte?’

O projeto também foi implementado em locais especializados em oncologia, nefrologia e outros, que montaram uma comunidade online para compartilhar as dificuldades e descobertas, além dos sucessos e resultados.

O Programa de Cuidados inclui: orientação na identificação precoce dos pacientes em risco; um guia de conversação, com perguntas que podem ser feitas; um treinamento intensivo de comunicação para os médicos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros, com atores agindo como pacientes; e materiais para ajudar a comunicação entre o doente e as pessoas próximas a ele. No guia, há perguntas como “que habilidades são fundamentais para você, quais você não se imagina sem?”; e “o quanto está disposto a fazer para ter a chance de ganhar mais tempo de vida?”. Além disso, para os médicos de hospitais, algumas abordagens foram adaptadas no Falando de Metas e Expectativas (Speaking about Goals and Expectations – SAGE), permitindo conhecer o doente mesmo com limitação de tempo.

Resultados

Os resultados do projeto piloto no hospital, feito durante um ano, foi que 100% dos pacientes que foram abordados com o SAGE, ou seja, tendo um acompanhamento, conseguiram ter conversas detalhadas e claras sobre suas prioridades. Entre aqueles que recebiam os cuidados habituais, apenas 40% tiveram suas expectativas bem definidas. Os resultados na parte de cuidados primários e especialidades ainda estão sendo concluídos, mas uma parcial analisada pelo Dana-Farber Cancer Institute mostrou que mais de 90% das pessoas que foram acompanhadas tiveram uma boa conversa, enquanto só 70% do outro grupo conseguiram ter.

Leia mais: ‘Pacientes consideram que algumas condições são ‘piores que a morte’’

Ter uma boa conversa é conseguir dizer qual a prioridade: focar nas tentativas de sobreviver ou na qualidade de vida, que é o que a maioria prefere. Além disso, as conversas conseguiram diminuir a ansiedade dos pacientes e aumentar o controle dos doentes sobre decisões médicas.

A morte é sempre um tema muito delicado e difícil de ser discutido. Para os médicos pode acabar se tornando natural, mas não deixa de ser uma grande questão. Ouvir os pacientes e dar prioridade ao que eles querem pode tornar tudo mais tranquilo e fácil de lidar.

As melhores condutas médicas você encontra no Whitebook. Baixe o aplicativo #1 dos médicos brasileiros. Clique aqui!

Referência:

  • https://hbr.org/2016/12/changing-how-patients-and-doctors-talk-about-death

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.