No último Congresso Brasileiro de Cardiologia – realizado de 22 a 25 de setembro – foram apresentados dados dos pacientes internados na enfermaria do Instituto Nacional de Cardiologia – INC Laranjeiras.
Avaliou-se retrospectivamente os dados obtidos em prontuários e banco de dados institucional de 1.113 pacientes internados de agosto de 2012 a janeiro de 2016. A população foi composta por 397 mulheres (35.67%) e 716 homens (64,33%) com idade média de 63 anos. O diagnóstico na admissão está representado no gráfico abaixo.
As opções terapêuticas foram: clínica (31,45%), angioplastia (18,87%) e revascularização cirúrgica (49,69%). Nota-se uma parcela importante de pacientes submetidos à revascularização – cirúrgica ou percutânea; e a menor parte somente com tratamento clínico.
Tal fato pode ser explicado pelo INC ser um hospital de alta complexidade e, por isso, recebe pacientes com grande comprometimento coronariano de todo estado do Rio de Janeiro. Desta forma, procedimentos invasivos são mais frequentes, uma vez que o tratamento clínico já está otimizado.
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Na tabela abaixo, percebe-se o perfil clínico, laboratorial e exames cardiológicos dos pacientes. Destacam-se alguns dados como: alta prevalência de hipertensão arterial (88,68%), dislipidemia (72,32) e sedentarismo (79,39%); disfunção de ventrículo esquerdo moderado a grave (36,06%), isquemia em 81,94% dos pacientes que fizeram teste provocativo não invasivo e pacientes trivasculares (64,98%).
Sabe-se que a proporção de pacientes uni, bi ou trivasculares em grandes estudos relacionados à doença coronariana é por volta de 1/3 para cada um dos três, número diferente dos encontrados neste estudo. Tal fato pode ser explicado pela alta complexidade dos indivíduos admitidos no INC, que possuem alta prevalência de fatores de risco clínicos e de sinais de gravidade nos testes diagnósticos, conforme relatados.
Levando-se em conta que a doença coronariana está entre as maiores causas de morte em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, após a determinação do perfil dos pacientes internados no INC, realizou-se análise estatística utilizando os testes do qui-quadrado e exato de Fisher para avaliar associação das variáveis com a ocorrência de óbito intra-hospitalar. Foi ajustado modelo de regressão logística para quantificar os efeitos das variáveis sobre o óbito e considerado significativo p<0,05.
A ocorrência de óbito intra-hospitalar não apresentou associação com sexo (p= 0,81), hipertensão arterial (p= 0,15), diabetes mellitus (p= 0,83), dislipidemia (p= 0,15), tabagismo (p= 0,83), história familiar DAC (p= 0,82), sedentarismo (p= 0,70), função ventricular (p= 0,22), presença de isquemia em teste provocativo (p= 0,21) e doença cerebrovascular (p= 0,13). No entanto, houve associação com a presença de doença trivascular (p= 0,001), doença arterial periférica (p= 0,01), idade (p= 0,003) e clearance de creatinina (p= 0,001). Destaca-se que na análise multivariada os fatores independentes associados a óbito foram clearance de creatinina (p= 0,004) e doença trivascular (p= 0,001).
É importante frisar que a partir destes dados podem-se tirar inúmeras conclusões a partir do perfil dos pacientes internados em enfermaria em hospital terciário de referência em cardiologia e, desta forma, planejar melhor as políticas de saúde para pacientes com coronariopatias, como: ações preventivas – controle dos principais fatores de risco, melhorar a assistência a partir da identificação dos critérios de gravidade e direcionar para cada paciente o tratamento ideal (clínico, percutâneo ou cirúrgico).