Sarcopenia ou Dinapenia? Por que os idosos perdem força?

Foi proposto que sarcopenia fosse utilizado para perda de massa muscular, e dinapenia, para caracterizar a perda de força relacionada ao envelhecimento.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Em estudos dos pesquisadores americanos Clark e Manini, foi observado que a perda de força relacionada ao envelhecimento é apenas parcialmente explicada pela redução da massa muscular e que outros fatores fisiológicos explicariam a fraqueza muscular em idosos. Foi proposto que o termo sarcopenia fosse utilizado exclusivamente para descrever perda de massa muscular, enquanto que dinapenia seria um termo mais apropriado para caracterizar a perda de força relacionada ao envelhecimento. Apesar do apoio e crescente popularidade do novo termo, ainda há alguma resistência quanto ao seu uso, especialmente porque poderia interferir nos esforços pela busca de um consenso nos algoritmos que definem e abordam a sarcopenia.

Há mais de três décadas sabemos que a força muscular não depende apenas do tamanho do músculo. Foi sugerido por pesquisadores americanos que a ativação muscular através do sistema nervoso é mais importante para promover ganho de força que o aumento do seu volume. O declínio da força é muito mais rápido que o declínio da massa muscular, conforme indicam resultados do “Health ABC Study”: três mil idosos foram acompanhados por cinco anos e as alterações tomográficas na área da musculatura do quadríceps justificaram apenas 6-8% da variabilidade interpessoal na força da musculatura extensora das pernas aferida com dinamômetro isocinético.

De forma semelhante, Clark e colaboradores reportaram, após analisar 18 voluntários usando tomografia computadorizada e dinamômetro, que a perda de massa muscular secundária a quatro semanas sem usar a perna (suspensão unilateral de membro inferior), explicaria menos de 10% da perda de força muscular associada. Esses achados sugerem que a perda de força em idosos teria fraca associação com a perda de massa muscular.

Logo, manter ou ganhar massa muscular não preveniria a perda de força decorrente do envelhecimento. Além disso, a perda de força e não somente massa, seria um fator crítico para determinar tanto incapacidade física quanto mortalidade. Xue e colaboradores, por exemplo, reportaram que, em um grupo de 436 mulheres, declínios mais rápidos da força de preensão palmar e extensão da perna mesmo após ajuste para fatores confundidores, foram preditores de mortalidade. Anteriormente, o estudo de Newman e colaboradores já havia observado a mesma associação entre perda de força e mortalidade, mesmo após levar em consideração a área do músculo e percentual de massa magra.

Mais do autor: ‘Você pergunta sobre quedas na sua anamnese? Como abordar e preveni-las?’

Considerando que a perda de massa não é a única causa da dinapenia, as outras possíveis causas deveriam ser investigadas. Os mecanismos responsáveis pela diminuição de força podem ser atribuídos a uma combinação de fatores neurais e musculares. O funcionamento do córtex cerebral, medula espinhal e junção neuromuscular influenciam a ativação voluntária de fibras musculares. É questionável o quanto a capacidade de ativação central da musculatura esquelética fica prejudicada no processo de envelhecimento.

Algumas pesquisas sugerem inclusive que haja associação entre fraqueza e distúrbios cognitivos e que essa correlação seria independente da massa muscular e grau de atividade física. Trabalhos concluídos há mais de dez anos já constataram que conforme envelhecemos ocorre redução volumétrica significativa do corpo celular de neurônios do córtex pré-motor, atrofia cortical de áreas próximas ao córtex motor primário e redução do comprimento de fibras mielinizadas. O envelhecimento proporcionaria um estado de “hipoexcitabilidade” cortical e espinhal. Já foi descrita também redução do tamanho e número de unidades motoras. Coletivamente esses achados contribuiriam para o declínio do desempenho motor, mas a relação exata com dinapenia permanece obscura.

Quanto aos fatores musculares, existe uma série de eventos cruciais envolvidos no complexo processo fisiológico de converter um sinal neural de ativação muscular em contração muscular efetiva com geração de força. O estímulo eletromecânico requer que um receptor dihidropiridínico (RDH) no túbulo transverso dentro da célula muscular esquelética ative a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático (RSP). O cálcio liberado no mioplasma interage com troponinas e há em seguida o deslizamento entre filamentos de actina e miosina proporcionando a contração das fibras musculares. Falhas em qualquer ponto do processo ocasionariam redução da capacidade intrínseca de gerar força, resultando na dinapenia.

As melhores condutas médicas você encontra no Whitebook. Baixe o aplicativo #1 dos médicos brasileiros. Clique aqui!

O envelhecimento pode estar associado à redução do número de RDH nos túbulos transversos, resultando em menor percentual de cálcio liberado pelos canais do RSP. Foi demonstrado em camundongos que a deleção de um gene que codifica a proteína JP45 do RSP resulta na diminuição de sua força muscular, sugerindo que proteínas específicas do RSP podem estar envolvidas na manutenção da força muscular desses animais. Outras publicações reportaram especificamente nos idosos, redução da qualidade contráctil da estrutura muscular.

Indubitavelmente agrava-se a atrofia muscular à medida que envelhecemos. Mais especificamente, homens idosos perdem cerca de 1% e mulheres 0,65% da área muscular da coxa por ano. Desse modo, as evidências apontam para a redução da capacidade intrínseca de gerar força da musculatura esquelética de idosos, mas as causas ainda não foram completamente determinadas.

Referências:

  • AUYEUNG T.W.; KWOK T.; LEE J.; LEUNG P.C.; LEUNG J.; WOO J. Functional decline in cognitive impairment- the relationship between physical and cognitive function. Neuroepidemiology, vol. 31, p. 167-173, 2008.
  • CLARK B.C.; FERNHALL B.; PLOUTZ-SNYDER L.L. Adaptations in human neuromuscular function following prolonged unweighting: I. Skeletal muscle contractile properties and applied ischemia efficacy. J Appl Physiol, vol. 101, 63-256, 2006.
  • CLARK B.C.; MANINI T.M. Sarcopenia ≠ Dynapenia. Journal of Gerontology: Medical Sciences, vol. 63A, n. 8, p. 829-834, 2008.
  • CLARK B.C.; MANINI T.M. What is dynapenia? Nutrition, vol. 28, n. 5, p. 495-503, 2012.
  • D’ANTONA G.; PELLEGRINO M.A.; CARLIZZI C.N.; BOTTINELLI R. Deterioration of contractile properties of muscle fibers in elderly subjects is modulated by the level of physical activity. Eur J Appl Physiol, vol. 100, p. 603-611, 2007.
  • DELBONO O.; XIA J.; TREVES S.; WANG Z.M.; JIMENEZ-MORENO R.; PAYNE A.M., et al. Loss of skeletal muscle strength by ablation of the sarcoplasmatic reticulum protein JP45. Proc Natl Acad Sci USA, vol. 104, 20108-20113, 2007.
  • DELMONICO M.J.; HARRIS T.B.; VISSER M.; PARK S.W.; CONROY M.B.; VELASQUEZ-MIEYER P., et al. Longitudinal study of muscle strength, quality and adipose tissue infiltration. Am J Clin Nutr, vol 90, p. 1579-1585, 2009.
  • FERRUCCI L.; DE CABO F.R.; KNUTH N.D.; STUDENSKI S. Of Greek heroes, wiggling worms, mighty mice, and old body builders. This review study highlights important current insights into the epidemiology, causes, and diagnostic dilemmas that accompany sarcopenia research J Gerontol A Biol Sci Med Sci, vol. 67, p. 13-16, 2012.
  • MACINTOSH B.R.; GARDINER P.F.; MCCOMAS A.J. Skeletal Muscle: Form and Function. Champaign, IL: Human Kinetics, 2006.
  • MORITANI T.; DEVRIES H.A. Neural factors versus hypertrophy in the time course of muscle strength gain. Am J Phys Med, vol. 58, p. 115-130, 1979.
  • NEWMAN A.B.; KUPELIAN V.; VISSER M.; SIMONSICK E.M.; GOODPASTER B.H.; KRITCHEVSKY S.B., et al. Strength, but not muscle mass, is associated with mortality in the health, aging and body composition study cohort. J Gerontol A Biol Sci Med Sci, vol. 61, p. 7-72, 2006.
  • XUE Q.L.; BEAMER B.A.; CHAVES P.H.; GURALNIK J.M.; FRIED L.P. Heterogeneity in rate of decline in grip, hip, and knee strength and the risk of all-cause mortality: the women’s health and aging study II. J Am Geriatr Soc, vol. 58, p. 84-2076, 2010.

 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades

Tags