Taxonomia: que tal falarmos a mesma língua quando tratamos a dor?

É necessário para um entendimento global na avaliação e tratamento da dor classificarmos os termos comuns e, então, surge o conceito de taxonomia.

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Quando imaginamos qualquer atividade bem-sucedida nos dias de hoje, independente da área, logo nos vem a cabeça um sistema bem organizado, com tarefas e responsabilidades bem definidas sendo realizadas com muito comprometimento e dedicação por parte dos participantes, levando ao desenvolvimento e conquistas de forma rápida, porém consistente e com muita base.

No entanto, para que as atividades aconteçam com maestria, é fundamental que esses participantes se entendam dentro desse processo. Então, podemos dizer que é fundamental “ser falada a mesma língua” entre os participantes.

Quando falamos a mesma língua não quer dizer necessariamente o mesmo idioma, e sim termos uma padronização de termos que tenham um significado pré-determinado, de conhecimento por todos os envolvidos, sendo necessário para isso que tenha características próprias que os definam e que ao mesmo tempo os diferencie um do outro, não importando em que continente a pessoa que entre em contato com o termo viva.

Pensando dessa forma, é necessário para um entendimento global na avaliação e tratamento da dor classificarmos os termos comuns nesse grande universo da medicina e, então, surge o conceito de taxonomia.

equipe médica tendo debate

Mas o que é taxonomia mesmo?

A palavra Taxonomia vem do grego Tassein: classificação; Nomos: lei. Foi usada por muito tempo quase que exclusivamente como sinônimo de classificação dos organismos vivos. Mais tarde, porém, seu sentido foi ampliado, abrangendo muito mais que apenas os organismos vivos, podendo significar hoje em dia: classificação das coisas ou princípios subjacentes da classificação. Dessa forma, podemos, através de um esquema taxonômico, classificar quase tudo.

Então, quando falamos de taxonomia da dor, estamos nos referindo a termos usados pelos profissionais que lidam com pacientes com dor. Com essas definições pré-estabelecidas fica muito mais fácil a comunicação entre os vários profissionais de várias áreas da saúde em vários lugares ao redor do mundo, facilitando o diagnóstico, o tratamento e a pesquisa em um problema que cresce na realidade do nosso dia a dia à medida que o tempo vai passando.

Pensando nisso , a IASP (International Association for Study of Pain), em uma reunião em Kyoto, no Japão, em Novembro de 2007, criou uma força-tarefa em taxonomia da dor, que atualizou a nomenclatura já consagrada pelo uso utilizada pelos diversos profissionais, atualizando conceitos antigos e introduzindo novos.

Discutiremos aqui a ultima revisão da IASP, feita em Dezembro de 2017.

1) Analgesia
Ausência de dor em resposta a estímulo que normalmente seria doloroso.

2) Anestesia dolorosa
Dor em uma área ou região que está anestesiada.

3) Disestesia
Uma sensação anormal desagradável, seja espontânea ou provocada.

4) Hiperalgesia
Quando um estímulo que normalmente causa dor leva a uma sensação de dor maior do que a esperada para aquela ocasião.

5) Alodínea
Dor devido a estímulo que normalmente não causa dor.

6) Hiperestesia
Sensibilidade aumentada ao estímulo, excluindo a sensibilidade especial.

7) Hipoalgesia
Sensação de dor diminuída em resposta a um estímulo normalmente doloroso.

7) Hipoestesia
Sensibilidade diminuída ao estímulo, excluindo a sensibilidade especial.

8) Hiperpatia
Síndrome dolorosa caracterizada por reação anormal dolorosa a um estímulo, especialmente um estímulo repetitivo e também por um limiar aumentado.

9) Neuralgia
Dor na distribuição de um ou mais nervos, não devendo ser reservado apenas para dor paroxísticas.

10) Neurite
Inflamação de um ou mais nervos.

11) Neuropatia
Distúrbio de função ou alteração patológica em um nervo. Pode ser classificada em Mononeuropatia, Mononeuropatia Múltipla e Polineuropatia.

12) Mononeuropatia
Em um nervo apenas.

13) Mononeuropatia Múltipla
Lesão sequencial ou simultânea a múltiplos nervos não contíguos.

14) Polineuropatia
Difusa e bilateral.

15) Plexopatia
Lesão que acomete um plexo inteiro.

16) Dor Neuropática
Dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso sensorial. Requer uma lesão demonstrável ou uma doença que satisfaça critérios diagnósticos previamente estabelecidos.

17) Nocicepção
Processo neural de codificação do estímulo nocivo.

18) Nociceptor
Receptor que é capaz de transduzir e codificar o estímulo nocivo.

19) Limiar de Dor
Intensidade mínima de um estímulo que é percebido como doloroso.

20) Estímulo Nóxico
Estimulo que é prejudicial ou ameaça um prejuízo para tecidos normais.

21) Nível de tolerância à Dor
Intensidade máxima de um estimulo que produz dor que alguém é capaz de suportar.

22) Sensibilização
Resposta aumentada de neurônios nociceptivos ao seus sinais aferentes normais ou abaixo do limite. Clinicamente esse termo pode somente ser usado por fenômenos como hiperalgesia ou alodinea.

23) Sensibilização Central
Quando o fenômeno da sensibilização ocorre no sistema nervoso central.

24) Sensibilização Periférica
Quando o fenômeno da sensibilização ocorre no sistema nervoso periférico.

25) Dor Nociceptiva
Dor originada de lesão a tecido não neural e devida à ativação de nociceptores. Ocorre com um normal funcionamento do sistema nervoso somatosensitivo, que contrasta com a função anormal do sistema nervoso somatosensitivo que ocorre na Dor Neuropática.

26) Dor Nociplástica
Dor originada da nocicepção alterada apesar de não ter clara evidência de lesão tecidual ativando os nociceptores ou doença do sistema somatosensitivo.

27) Parestesia
Uma sensação anormal não desagradável seja espontânea ou provocada.

28) Estímulo Nociceptivo
Um real ou potencial evento prejudicial transduzido e codificado por nociceptores.

29) Neurônio Nociceptivo
Neurônio central ou periférico do sistema somatosensitivo que codifica estímulo nocivo.

30) Tratamento Interdisciplinar
É aquele realizado por um time multidisciplinar colaborando na avaliação e tratamento, usando um modelo biopsicosocial e objetivos. Nesse modelo de tratamento há encontros regulares, concordância em diagnóstico e alvos terapêuticos e planejamento de tratamento.

31) Tratamento Multidisciplinar
Tratamento multimodal realizado por diferentes profissionais. Todos com seus próprios objetivos terapêuticos, tendo suas próprias metas individuais e não necessariamente se comunicando.

32) Tratamento Multimodal
É o tratamento no qual é feito o uso simultâneo de intervenções terapêuticas separadas com diferentes mecanismos de ação dentro de uma especialidade destinado a mecanismos diferentes de dor. Como, por exemplo, o uso de um AINH e órtese prescrito por um médico para controle de dor.

33) Tratamento Unimodal
Intervenção terapêutica única dirigida a um mecanismo especifico de dor. Temos como exemplo a aplicação de tratamento de exercício por um fisioterapeuta.

Conclusão:

Ainda hoje é comum colegas usarem termos existentes, porém com significados diferentes dos quais realmente os caracterizam. Essa situação complica a comunicação entre os profissionais, ocasionando, no mínimo, um seguimento com qualidade menor do que poderia ter.

A taxonomia com sua uniformidade na terminologia em dor acaba com esses problemas na área médica. Esses problemas vão desde pesquisas, diagnósticos, até tratamentos. Uma linguagem padrão facilita a comunicação entre os diversos profissionais que estão envolvidos no tratamento da dor de um paciente, especialmente por se tratar de uma patologia que envolve diversos profissionais que devem integrar uma equipe interdisciplinar.

Essa padronização traz melhores resultados no cuidado da dor como um todo, mostrando que o importante não é em que lado do globo você vive, mas é sempre falarmos a mesma língua.

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Referências:

  • IASP Taxonomy. Disponível em: <www.iasp-pain.org/IASP Taxonomy.html>. Acesso em: 25 fev. 2018.
  • The kyoto protocol of IASP Basic Pain Terminology”. J.Loeser e R. Treed. J of Pain (2008).
  • Backonja MM. Defining neuropathic pain. Anesth Analg 2003;97:785–90.
  • Cervero F. Sensory innervation of the viscera – peripheral basis of visceral pain. Physiol Rev 1994;74:95–138.
    5.Cervero F, Merskey H. What is a noxious stimulus? Pain Forum 1996;5:157–61.
  • Jensen TS, Sindrup SR, Bach FW. Test the classification of pain: reply to Mitchell Max. Pain 2002;96:407–8.

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