Uso de macrolídeo pode causar perda auditiva?

Segundo uma pesquisa publicada pelo Lancet, em 2014, sobre o consumo de antibióticos, o uso de macrolídeo chegou a 180 bilhões de doses somente em 2010.

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Segundo uma pesquisa publicada pelo Lancet, em 2014, sobre o consumo de antibióticos, o uso de macrolídeo chegou a 180 bilhões de doses (sob qualquer forma de administração) somente em 2010. Em comparação a 2000, este consumo aumentou em 25%, devendo aumentar nos próximos anos.

Geralmente são empregados a pacientes alérgicos à penicilina, infecções de vias aéreas superiores e inferiores, além de serem utilizados para erradicação do H.pylori e em doenças sexualmente transmissíveis.

A perda auditiva sensorioneural (PASN) tem uma prevalência, nos EUA, de 19% na população adulta e até 80% em idosos acima de 80 anos. A ototoxicidade é uma possível causa deste tipo de perda auditiva e seu reconhecimento precoce pode ser crucial na interrupção subsequente do fator expositor, com melhor manejo da hipoacusia e implicação nos prognósticos de curto e longo prazo.

Uma recente revisão sistemática foi publicada em agosto pela Laryngoscope com o estudo de 44 publicações, após a inclusão/exclusão dos critérios de seleção em 420 estudos inicialmente separados.

Os critérios de inclusão foram:
1) adultos e/ou crianças de qualquer idade, etnia, estado de saúde ou base socioeconômica (população de pacientes);
2) uso de macrolídeo em qualquer dose, incluindo intravenosa ou oral (intervenção / comparações);
3) qualquer duração relatada do uso e acompanhamento do antibiótico, a longo prazo ou a curto prazo (intervenção / comparações);
4) e relato de presença ou ausência de PASN quantitativamente, conforme confirmado por audiometria para cada caso afetado (resultado).

Os estudos foram excluídos quando:
1) apenas foram avaliados modelos ou dados com animais;
2) a presença ou ausência de perda auditiva não foi avaliada;
3) tinnitus foi relatado na ausência de perda auditiva;
4) ou não foram relatados dados diretos do paciente (por exemplo, comentários gerais).

Veja também: ‘A influência nutricional na perda auditiva’

Foram avaliados subgrupos com uso de Azitromicina VO, Claritromicina VO e Eritromicina VO e EV, com diferentes dosagens administradas. A reversibilidade ou não da perda com a interrupção do antibiótico (associado ou não ao uso de corticoterapia após detecção da perda) também foi investigada.

Dados do banco do Food and Drug Administration (FDA) Adverse Events, do site do Therapeutic Goods Administration, do Departamento de Saúde do governo Australiano, e da World Health Organization (WHO) Collaborating Centre for International Drug Monitoring também foram revisados.

Dos 44 estudos, 3 foram prospectivos, 3 retrospectivos e 38 relatos de caso. Sendo assim, a maioria dos estudos foi de relato, o que impede a quantificação da prevalência esperada, a estratificação de fatores de risco ou a determinação da melhor conduta quando a PASN ocorre após o uso de macrolídeos.

Além disso, a ocorrência da perda auditiva foi monitorada de maneira passiva à medida que os sintomas dos pacientes surgiam, ao invés de realização de um monitoramento ativo, como ocorreria em ensaios prospectivos controlados. Portanto, a capacidade de determinar a causalidade é notavelmente mais limitada. Em todos os casos, a relação entre macrolídeos e PASN foi avaliada como possível ou provável, na escala de causalidade.

Na maioria dos casos, a melhora da PASN foi observada após horas a dias da interrupção do macrolídeo, independentemente do tipo, dose ou via de administração. Os graus de perda auditiva, assim como sua lateralidade e frequencias atingidas também foram diversas.

Os dados desta revisão impedem a quantificação da força de associação ou especificidade do uso de macrolídeo e perda auditiva, apesar de apresentar 44 estudos demonstrando esta associação de maneira consistente. Esta associação parece ter efeito dose-dependente.

Portanto, mais e maiores estudos deverão ser realizados para determinar a dose, via de administração, frequência e o mecanismo biológico de ototoxicidade do macrolídeo.

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Referências:

  • Ikeda et al.: Macrolide-Associated SNHL. Laryngoscope. 2017 Aug 3.
  • Etminan et al.: Macrolides and Sensorineural Hearing Loss. Laryngoscope. 2017 Jan;127(1):229-232

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